segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Crepusculo


O público adolescente e pré adolescente que tem vibrado com a Saga Crepúsculo, espécie de confissão bilionária de Stephenie Meyer, lota as salas de exibição para se deliciar com o que dizem ser o último filme da série “Amanhecer: Parte 2″. Estão na tela os elementos que conferiram sucesso na faixa etária alvo: a busca do par perfeito, os momentos de carinho, uma espécie de amor idealizado, os rostos belos e os corpos bem definidos. Cinematograficamente, o filme tem beleza estética e se utiliza de tecnologias que tornam o espetáculo visual agradável. Mas abandona anos de evolução de escolas de cinema, em montagem, enquadramentos e ousadias da sétima arte. Os atores são maiores que os personagens. E agradam em cheio ao público consumidor da saga. Basta olhar para o lado na sala de cinema e observar gestos, olhares, perceber suspiros e até acompanhar aplausos. Talvez, um dos maiores acertos da saga tem sido a capacidade de criar empatia com seu público, que pode não ser eu e nem você, mas são milhões de jovens espalhados por todo o mundo.
No fundo da trama, Stephenie Meyer nos coloca frente a frente com um mundo que colido com as aparentes expectativas da contemporaneidade. No universo dos vampiros e lobos da série, as mulheres parecem não querer independência, carreira e nem igualdade de gêneros. O sonho ali é o tal “amar e ser amada”, mesmo. Neste episódio da saga, não há  heroínas independentes, mas garotas que encontram em outra pessoa sua razão de ser e de viver, promovendo absorção do outro, nem completude, nem divisão. Isso, por si só, ajuda a aliviar as tensões dos dias atuais. Outra dica do sucesso. A protagonista, Bella, vivida pela agora “mais mulher” Kristen Stewart, passou os filmes anteriores envolvida em vivências que tinham como essência, o amar e ser amada, ou pelo vampiro Edward ou pelo lobisomem Jacob. Agora ela surge com ares de mulher “completa”  é esposa do vampiro, aceita pela família dele e mãe de um menininha que cresce espantosamente. O centro da trama é feminino, e evoca a uma tal  necessidade feminina de ser, não apenas amada, mas preenchida por outro, não importa se humano, vampiro ou lobisomem.
A promessa de ação e aventura, típica de “filmes de meninos”, está latente na tela, mas não surge como centro da trama. Os primeiros momentos da exibição mostram uma certa inclompletude em ser somente humano. A transformação de Bella numa vampira apontam para seus 18 anos de vida “sem sal”, que agora surge forte e insaciável, com a “delícia de ser um vampiro”. Agora mãe, Bella assume uma missão que parece dar sentido à sua vida: proteger a filha Renesmee (realidade perceptível fora das telas e em várias latitudes).  Para tratar de ajudar na defesa da menina, novo membro da família vampira, surgem novos personagens que dão mais agilidade à narrativa,  ampliando um determinado conceito de vampirismo x-mencriado por Meyer. Sintomática e bem oportuna é a nova capacidade adquirida por Bella,  como uma boa mãe e esposa, tem o poder de bloqueio, da proteção do lar. Entretanto, a fragilidade mitológica da série continua com a superficialidade do surgimento de egípcios, irlandeses, índios e até mesmo tradicionais vampiros da Transilvânia, dando amplitude às raças e espécies, mais com vocação de preencher cenários e lacunas dramáticas do que aprofundar conceitos e conteúdos. Mas, assim mesmo, convergem para o aprimoramento da estética que agrada o público alvo, a apartir do roteiro de  Melissa RosenbergO trabalho do diretor Bill Condon parece encomendado mesmo e só escorrega, em competência, na filha de Bella, digitalmente crescida, com efeitos risíveis. Até o tal imprinting, que justifica o desvio do amor do lobo Jacob para a recém nascida Renesmee, depois de morrer de paixões pela insossa Bella. Mas tudo se explica de forma rápida e sem complicações. Como a geração alvo deseja. Neste capítulo, que se diz final, segue-se s receita dos anteriores: didatismo e nada de complexidades. E, no meio de atores do “segundo time”, nomes consagrados, como  Michael Sheen (Aro, o líder dosVolturi, que perseguem a nova membro do clã vampírico), Lee Pace (o vampiro Garrett) ou Dakota Fanning (a malvada Jane) emprestam seu histórico para dar corpo ao filme. Mas seus personagens não crescem na trama, para não desviar do amor focal. Pena. Nem o antológicoGraham Greene consegue dar profundidade narrativa. Mas, mesmo assim, o sucesso cinematográfico coloca por terra toda minha apreciação, quando se trata de bilheteria milionário. O filme acerta no seu alvo. com voracidade de lobo, ou sangue frio de vampiro.

Experiência Visual


“O Moinho e a Cruz” é uma produção do cineasta polonês Lech Majewski falada em inglês. Este é um filme para quem gosta de artes plásticas. Isso porque este longa-metragem de 96 minutos, que mistura drama e ensaio visual, parte do quadro “Caminho para o Calvário”, de Pieter Bruegel. O pintor é vivido na tela pelo ator Rutger Hauer, ator que marcou a história do cinema com filmes como “O Feitiço de Áquila” e “Blade Runner – O Caçador de Androides”. Bruegel planeja seu quadro mostrando o  sofrimento de Cristo e criando um paralelo com a região de Flandres, onde hoje é a Bélgica. No século XVI, a área foi dominada pelos espanhóis.  Dessa forma, os algozes de Jesus ganham o uniforme vermelho dos guardas invasores, que maltratavam os camponeses de então. A mãe de Cristo ganha a interpretação da famosa atriz britânica Charlotte Rampling, que transmite no olhar toda a tristeza de Maria ao ver seu filho morrer. A proposta de Majewski faz com que as personagens e as cenas sejam expostas como uma pintura viva. Cada frame é cuidadosamente composto em detalhes de luz, cores, cenários e figurinos que retratam a época e alguns de seus costumes. Por isso, não é um filme para ser visto por quem tem pressa. Exige paciência e contemplação. Assisti-lo se  aproxima mais de uma experiência visual do que o acompanhar de uma narrativa. É para espectadores que gostam de fugir de filmes convencionais.

Denúncia violenta



“Na Terra do Amor e do Ódio”  marca a estreia de Angelina Jolie como diretora de um longa-metragem de ficção. É um drama que se passa durante a guerra da Bósnia. Como é de conhecimento público, a guerra civil pela posse de territórios na região da Bósnia-Herzegóvina ocorreu de 1992 a 1995 e envolveu três grupos étnicos e religiosos: os sérvios, cristãos ortodoxos; os croatas, católicos romanos; e os bósnios, muçulmanos. Quando se pensava que atrocidades como as da 2ª Guerra Mundial não voltariam a ocorrer, os Balcãs vivenciaram novamente a criação de campos de concentração para prisioneiros inimigos. Uma das piores práticas dos sérvios foi o estupro como arma de guerra, com a insana justificativa de realizar uma “limpeza étnica”. Ambientada durante esta guerra civil, a narrativa acompanha o romance entre um militar e uma mulher que são de lados opostos no conflito, ele sérvio e ela muçulmana. Angelina não aparece em cena e escolheu um time de artistas locais para o elenco, e, por isso, desconhecidos do grande público. A exceção é o ator que interpreta o general sérvio, vivido pelo croata Rade Serbedzija, que frequentemente aparece em filmes americanos (geralmente como vilão), como “Missão Impossível 2” e “Busca Implacável 2”. Inerente aos fatos que procura reconstruir, o filme tem cenas chocantes, em especial as que mostram a violência dos sérvios e a crueldade com que tratavam seus inimigos. O longa-metragem, exibido no Festival de Berlim, mostra que Angelina tem uma carreira promissora também atrás das câmeras. Prova que ela não tem medo de colocar o dedo em feridas da história recente e está disposta a enfrentar as polêmicas que seu trabalho possa gerar. Entre estas discussões esteve o fato de o filme ser considerado muito violento, ao que ela respondeu que o que se viu no filme é pouco perto do que realmente aconteceu no conflito dos Balcãs. Desta forma, o espectador que for assistir ao filme deve saber que verá cenas de verdadeira barbárie. Mas, especialmente para quem gosta de História, é uma produção que merece atenção.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Como se faz Cinema - Parte 2: Etapas da Produção


1.Pré-ProduçãoA etapa de pré-produção de um filme começa quando há verba disponível; e portanto, está pressuposta toda a parte de captação de recursos, anterior a esta. Uma vez captado o dinheiro da produção, ao todo ou em parte, inicia-se o processo de pré-produção.
Este nada mais é que uma organização sistemática de como serão conduzidas as filmagens. Por mais que essa organização varie de filme para filme, de diretor para diretor, ela sempre é necessária, em maior ou menor grau, pois, como já mencionamos, sendo o cinema uma arte coletiva, é preciso contar com a disponibilidade e organização não só da equipe, mas também dos atores e também de terceiros que cedem locações, objetos de cena, figurinos, etc.  Sem que haja um cronograma, análise técnica e uma divisão eficiente de planos por dia, não é possível dar conta de todos os detalhes de produção de um filme, além da eminente possibilidade de ‘queimar o filme’ com quem se dispõe a ajudar. Assim, a pré-produção se ocupará destes pormenores técnicos de organização, que, quanto mais desenvolvidos estiverem, menor será a dor de cabeça durante a produção com problemas insolúveis. Mas que fique claro: fazer um cronograma, análise técnica e plano de filmagem não livra ninguém de contratempos; mas com certeza farão de todos passíveis de ser resolvidos sem prejudicar o andamento da filmagem, sem necessidade de extremismos. As etapas de uma pré-produção podem estar sobrepostas, ou seja, uma acontecendo concomitante à outra, e não há propriamente uma ordem que seja absolutamente necessária que se cumpra; mas as etapas são fundamentais e em algum momento devem estar presentes. São elas:

a.)   Escolha da Equipe
Consiste num primeiro contato entre produtor (geralmente o que foi atrás da verba) e o diretor para deliberarem a respeito da equipe que comporá o filme. Isso pode ser feito de qualquer maneira, desde chamando técnicos amigos, conhecidos, ou mesmo indicados por outros, ou ainda porque conhecem o trabalho deles e este se encaixa na proposta do filme. É muito comum cenógrafos ou fotógrafos (ou qualquer outra função) especializados em situações específicas que, quando o filme exige tais situações, são imediatamente lembrados.
Os critérios para escolha de uma equipe são muito vagos, mas se podemos dizer alguma coisa para ajudar neste sentido, dois aspectos devem ser de importância capital nesta escolha: o primeiro, claro, que seja um técnico eficiente, compromissado com fazer sempre o melhor de si, responsável e cujo trabalho tenha qualidade notória; o segundo é que ele seja capaz de harmonizar-se com toda a equipe, seja simpático, tenha bom humor e boa vontade; calmo e paciente, que seja humilde para não se sobrepor, mas também que seja modesto para se colocar quando necessário na parte que lhe cabe. Em suma, que tenha bom coração. Pode parecer estranho, no meio do cinema, que se mencione estas qualidades, mas, depois de um mês trabalhando com uma grande equipe, estes aspectos fazem muita diferença. Juntas, essas qualidades fazem de qualquer técnico um profissional do mais alto gabarito, que será sempre lembrado. Para quem está começando é importante começar a pensar unindo estes quesitos, pois é sempre importante lembrar que são homens que fazem cinema, e não equipamentos. Há muitos que pensam que farão cinema melhor com equipamentos melhores. Sabemos que não basta.

b.)   Reuniões gerais de produção
Estas reuniões são da mais alta importância. É nela que o diretor e o produtor irão apresentar o projeto com detalhes, distribuindo cópias do roteiro detalhado, para que cada diretor técnico possa encaminhar as necessidades que terá na produção. Todos os diretores técnicos (e de preferência seus assistentes principais) devem ler cuidadosamente o roteiro e procurar sobretudo entender o filme, seus objetivos, seu caráter, suas intenções dramáticas. Essas informações é que darão a cada técnico ferramentas necessárias à concepção estética de cada função que a que lhes cabe.
Não é necessário que todos os envolvidos estejam presentes; muitos técnicos assistentes ainda não foram definidos, ou dependem do diretor técnico, mas é fundamental e imprescindível que todos os diretores técnicos estejam presentes, o fotógrafo, o diretor de arte (ou cenógrafo), o diretor de produção e o técnico de som.
Muitas vezes eles já fazem parte da equipe desde o início, na apresentação do projeto para leis de incentivo, mas dificilmente já terão equipe formada a esta altura. Portanto, é bom que nestas reuniões apareça o maior número de pessoas, pois além de conhecerem-se ou reencontrarem-se uns aos outros, tomarão contato com todas as diretrizes e intenções estéticas do diretor, bem como o primeiro tratamento do cronograma. A partir desta reunião, cada diretor técnico irá montar sua equipe individual conforme a necessidade, bem como começar a preparar a análise técnica que diz respeito à sua função.

c.)   Análise técnica e cronograma
A análise técnica é de suma importância na pré-produção, porque através dela é que se saberá exatamente quanto o filme gastará e quanto tempo será necessário para realizá-lo. É muito provável que já haja algumas análises disponíveis, sem as quais não se poderia fazer o projeto para enviá-lo às leis de incentivo, mas certamente estas análises sofrerão muitas correções a partir da pré-produção.
Elas consistem em tabelas em que se discriminam todos os itens de cenário, figurino, objetos de cena, equipamentos e até atores, em todos os planos do filme, para que se tenha uma visão ampla e total da produção. Disso depende um cronograma mais eficiente.
Primeiramente, cada equipe se encarrega de fazer sua própria tabela analisando os itens que lhes dizem respeito; a arte levanta os figurinos, objetos de cena, acessórios de decoração, maquiagem e cenografia necessárias; a fotografia fará uma lista de equipamentos, a câmera que será utilizada, bem como tipos de filmes e todos os acessórios e em quais planos cada acessório será usado, incluindo maquinaria. (exemplos de tabelas estão disponíveis na seção “caixa de ferramentas” de Mnemocine) A equipe da direção se encarrega de listar os atores e cada plano em que aparecem.
Feito isso, tudo é passado para a produção, que irá organizar cada tabela numa outra geral e maior; será assim definido o cronograma e repassado a todos.

d.)   Escolha do Elenco
A escolha do elenco, também chamado de Casting, pode ser feita em diferentes momentos, até mesmo na etapa de elaboração do roteiro, que é anterior à pré-produção. Isso é comum quando o roteirista e o diretor estão preparando o projeto e já pensam na ação dos personagens, ou seja visualizam quem será o ator ou qual a figura mais próxima do que virá a ser este ator. Entretanto, mesmo podendo haver um contato prévio, não são apenas os atores principais que contam. Há também coadjuvantes e muitas vezes figuração, gente que precisa aparecer para fazer volume numa determinada cena. Neste caso também é preciso fazer uma escolha, e para isso existem os testes de casting. Eles podem ser feitos de diferentes maneiras de acordo com a necessidade (um teste específico para os atores principais, outro para os coadjuvantes, e escolha por foto para figuração), mas no fim das contas em relação aos atores principais e boa parte dos coadjuvantes (todos, se possível) , o diretor deve dar a palavra final na escolha.
A equipe de casting entra em contato com as agências ou os atores, organizam os testes, entram em contato após a seleção e cuidam junto à produção da supervisão do pagamento dos atores. É bom fechar todo o elenco apenas após ter sido feito o planejamento do cronograma, para poder dizer a cada ator quanto tempo ele será necessário na filmagem.
A escolha do elenco é de importância fundamental: um ator ruim pode acabar com um bom filme, mas um bom ator pode salvar um mal filme.
e.)   Reuniões de equipe
 Cada equipe, individualmente, deve se reunir para fazer sua tabela, bem como discutir questões próprias e problemas específicos que o filme traz para ela. A fotografia, por exemplo, fará plantas baixas das locações, ou pedirá plantas dos cenários para o diretor de arte, e planejará a luz nos mínimos detalhes, fazendo o que se chama Mapa de Luz. O fotógrafo, juntamente com seus assistentes, irão deliberar e decidir sobre a disposição, quantidade e qualidade da luz em cada ambiente, para todas as situações que se passarem neste ambiente (para exemplo de mapa de luz, consulte o texto “iluminação para cinema e vídeo”); farão também uma lista de todo o equipamento (luzes, filtros, câmera, objetivas, filmes, maquinaria, tripés e outros itens específicos). Exemplos de lista de equipamento e outras utilidades estão na seção “caixa de ferramentas” do site Mnemocine.
A arte fará trabalho análogo em sua instância, descrevendo minuciosamente todos os itens e acessórios necessários, para poder organizar sua produção. Plantas baixas do cenário e das locações também devem ser feitas, e se possível, maquete, para melhor visualização do ambiente. Tanto o diretor quanto o fotógrafo e diretor de arte trabalham com melhor condição visual quando têm uma maquete disponível, geralmente feita pelo cenógrafo. Outro recurso importante é o Story-Board, que é o filme colocado em quadrinhos, com todos os planos (ou pelo menos os mais importantes) desenhados. É extremamente útil e facilita o trabalho de todos, principalmente a fotografia, que pode através dele pensar a luz e as objetivas para fazer o enquadramento mais próximo do reproduzido no desenho. Se alguém da equipe souber desenhar, provavelmente será escalado para fazer o story-board (pago, de preferência), senão, há sempre um desenhista contratado para este serviço.
A fotografia deve ir às locações (se for o caso), e verificar todas as condições do lugar: Seu tamanho, a capacidade do quadro de força, necessidade de gerador, se comporta a maquinaria necessária, a que horas será filmado, onde o sol bate àquele horário (se for diurna), ou mesmo acompanhar todo o trajeto do sol (há informações sobre isso em sites especializados, como na Associação Brasileira de Cinematografia – www.abcine.org.br), etc., dando então o parecer técnico sobre tais condições. Depois dessa etapa, e feito o levantamento de todos os pormenores, passam as informações ao produtor e devem ir às locadoras de equipamento, fazer reserva do que pretende usar, bem como verificar as condições da câmera, maquinaria e dos acessórios. Se o assistente não conhecer determinado equipamento, é agora que deverá travar contato com ele, pedir informações, ler os manuais e manuseá-lo, para ter dominado seu uso até o início das filmagens (não será lá que ele aprenderá a mexer na câmera). Feito tudo isso e encaminhado à produção, ela se encarregará de definir o cronograma ideal, procurar os itens que não estiverem ao alcance das equipe (coisas caras ou muito grandes) e assim tudo estará pronto para filmar.
A experiência nos mostra que o cronograma deve ser feito preferencialmente reproduzindo uma curva de gauss no quesito dificuldade técnica, ou seja, começar com planos simples, para a equipe ir entrando no clima, aquecendo, deixando para colocar todos os planos mais difíceis e complexos, tanto estrutural como tecnicamente, para o meio, e terminar também com planos mais simples (detalhes, poucas falas, etc.), que é quando todos já não agüentam mais o ritmo de produção do filme. Em longas-metragens esse macete costuma ser de grande ajuda, mas em curtas, que pressupõe produções mais breves, isso nem sempre é feito, e às vezes nem é possível.
  
2.Produção

Chamamos produção o início das filmagens propriamente ditas, e que pressupõe que todos (ou pelo menos a grande maioria) dos itens de pré-produção já estejam resolvidos.
A produção confunde-se com a própria ação de fazer cinema, mas, como vimos na pré e veremos na pós-produção, este fazer cinema inclui muito mais que o set de filmagem. De qualquer maneira, esta é a etapa mais sedutora do trabalho em cinema.
O ambiente em que está sendo realizada a filmagem chama-se set de filmagem, e pode ser qualquer lugar, estúdio ou locação, mas que deve ser considerado como tal durante a permanência da equipe por lá. Isso significa que ele deve ser claramente delimitado, ‘cercado’, e apenas os profissionais envolvidos nas filmagens terão acesso a este espaço, salvo convites expressos de membros da equipe. Isso porque é fundamental que se mantenha a ordem e a concentração durante as filmagens, e a permanência de curiosos, transeuntes, pessoas alheias ao objetivo do filme, costumam desviar a atenção dos técnicos e atores. O espaço do set de filmagem é o local de trabalho do cineasta e deve ser compreendido como tal.
Para organização e gerenciamento deste espaço, há uma função específica do período de produção (que deve estar também na pré-produção), que é o produtor de set. Ele é responsável por tudo o que acontece especificamente no set de filmagem, desde sua delimitação (zelando para que ninguém desautorizado ultrapasse o cordão de isolamento, pois roubos em sets são freqüentes) até a alimentação da equipe, os locais mais adequados para colocação dos praticáveis do som, da fotografia e da arte.
Cada equipe deve ter uma ‘base’ de controle, geralmente os chamados “praticáveis” (mesa desmontável de madeira), em que são acomodados os equipamentos e suprimentos necessários de cada função, e esta base é exclusiva de cada equipe, não devendo ser misturada. Em outras palavras, há um espaço específico da fotografia, onde estarão os cases de câmera, tripés, caixa de filtros, fotômetros, equipamentos do assistente, etc., que enquanto não estiverem sendo usados, estarão disponíveis lá. A fotografia não deve em nenhuma hipótese colocar estes equipamentos, após o uso, em outra base, da arte, ou do som, assim como estes também não devem colocar seus pertences em outra base. Isso contribui para uma fantástica agilidade no exercício de cada função, pois o fotógrafo não precisará ficar saindo pelo set à procura de seu fotômetro, ou de um filtro específico, ele estará certamente à sua disposição no praticável da fotografia.
O produtor de set é responsável pela organização destas bases, escolhendo os melhores locais para cada equipe (a fotografia deve ficar sempre à sombra numa locação externa, por exemplo), providenciando cadeiras para atores e equipe, guarda-sol ou guarda-chuva, se necessário, organizando as refeições e distribuindo a equipe nos transportes.
Todos os diretores técnicos – e também o diretor – devem chegar a um set de filmagem com uma idéia muito clara do que vai acontecer lá, bem como todos os procedimentos já previamente decididos. O set não é o lugar para pensar sobre, é para fazer o que já foi pensado. Se há necessidade de parar o set para pensar o que se deve fazer, algo está fora de lugar, e será preciso repensar o cronograma.
No caso específico do diretor de fotografia, a luz já deve estar previamente concebida (através das plantas baixas e mapas de luz), se possível já montada por completo, e o DF apenas ‘afina’ a luz (tal qual o músico na orquestra – já está ensaiado, mas é preciso afinar), que nada mais é que um ajuste sutil da luz para os personagens ou objetos montados no cenário.
  
3.Desprodução

As etapas de pós-produção subentendem pelo menos duas ações: a desprodução do set de filmagem e também a finalização do filme. Sobre este último aspecto, consultar o texto “Processos de Finalização em Cinema”, que contempla exatamente esta propriedade. Em se tratando da pós-produção imediata de um filme, que chamamos de desprodução, podemos entender que toda a parafernália de equipe, atores, locações, equipamentos, e tudo o que está subjacente a isso, precisa voltar para o seu lugar. Sim, é um monte de trabalho, muitas vezes braçal, mas é assim que se faz num planeta tão denso como a Terra. Ainda mais em 3 dimensões.
Em linhas gerais, a desprodução significa:
·       Encerrar todos os contratos com os atores e equipes, bem como pagá-los (no caso de produções comerciais ou com subsídio);
·       Providenciar a volta e o deslocamento de atores e membros das equipes de outros estados e localidades distantes, para que voltem sem ônus para casa;
·       Devolver todas as locações no mesmo estado em que se encontraram antes das filmagens, pintar novamente estas locações se for preciso, bem como arcar com os custos de alguma perda ou substituir objetos e utensílios que possam ter sido quebrados por conta da filmagem.
·       No caso de cenários, desmontá-los e procurar formas de reutilizar ou reciclar a matéria-prima (madeira, plástico, papel), ou ainda doar itens que não serão mais utilizados. Evita-se a todo o custo jogar coisas fora.
·       A produção também deve providenciar a devolução de todos os objetos tomados emprestados ou em consignação para o filme, e devolvê-los de preferência com uma carta de agradecimento assinada pelo diretor de produção.
Por negligência a estes fatores, muitos são os estabelecimentos que não emprestam mais nada por traumas ocorridos com equipes irresponsáveis. Fazer cinema é também considerar que uma próxima equipe precise dos mesmos elementos, e não fechar as portas para os demais.
No caso de projetos incentivados por leis, a produção deve prestar contas, e para isso é preciso ter a documentação exigida sempre em ordem.
Toda a equipe de produção e arte estará envolvida nesta desprodução; concomitantemente, as equipes de som e fotografia estarão tratando do material captado, o som será descarregado num AVID ou Final Cut e a imagem será telecinada e/ou copiada em película para averiguação. Apesar da edição ser feita num meio eletrônico, é importante ver pelo menos algumas partes do filme em projeção, que dará ao diretor, produtor e ao fotógrafo uma noção mais ampla de como está a imagem do filme. O telecine não se presta para isso.
Aí entram as funções do montador (editor) e finalizador, que pode incluir também o finalizador de som, juntamente com o de imagem. Essa etapa da pós-produção é que se designa por finalização, e aí entramos no campo mais técnico, que levará o filme a se tornar um produto audiovisual completo.
Ainda posteriormente à finalização, há outra etapa ainda, que consiste na divulgação, distribuição e exibição, ou seja, toda a publicidade e a viabilidade do filme ser visto e comentado. Para isso, há desde o circuito comercial, para longas-metragens, e o circuito alternativo de festivais, mostras e exibições específicas, que servem não apenas para lançar longas mas também exibir curtas, documentários e filmes experimentais. A divulgação de um produto audiovisual é de extrema importância, já que o cinema é uma arte que foi feita para ser vista. Os americanos entenderam isso muito bem, e até hoje demonstram competência tanto na arte da realização como na comercialização.

Como se faz Cinema


PARTE 1 – Funções e Equipe

O Cinema é antes de mais nada uma arte coletiva. Não se faz cinema sozinho. Para todos
aqueles que gostam de lidar com imagens mas preferem o trabalho solitário, podem escolher à
vontade outras artes, que sem dúvida não deixarão de suprir necessidades similares. Temos a
fotografia, a pintura, a escultura, o design e até a literatura, se considerarmos que as palavras
geram imagens em nossa mente (e a imensa maioria dos filmes são adaptados de originais
literários). Mas, uma vez escolhida atividade cinematográfica, é fundamental ter em mente que
iremos trabalhar com muitas pessoas e que não podemos nos prender a rotinas ordinárias do diaa-dia.
Para tanto, embora possa parecer óbvio, é sempre bom lembrar que, para se fazer
cinema, é preciso estar imbuído da vontade de fazer cinema. Isso deve ser dito porque, como o
fascínio e o poder que as imagens do cinema geram nos espectadores é muito grande, não
pensamos que assistir cinema é muito diferente de fazer cinema. Muitas vezes somos impelidos a
querer mostrar nossa própria concepção da vida ou de um aspecto dela através do cinema, sem
nos darmos conta, conscientemente, que este é um processo complexo, que exige não apenas
um domínio técnico, mas também – e principalmente – paciência, perseverança,
responsabilidade, respeito e, acima de tudo, humildade.
Cada um deve, dentro da função que escolheu, exercê-la da melhor maneira possível,
independente do que os outros, de mesma ou de outra função, possam estar desempenhando
numa determinada produção. Pois é um erro pensar que a culpa é sempre de algum contexto
externo, da produção, do roteiro, do diretor, do bispo, da morte da bezerra. Imprevistos sempre
haverão, e faz parte deste pacote considerar alternativas em caso de impossibilidades de
realização. Cada um é responsável pelo filme tanto quanto o outro, e é justamente por isso que é
bom lembrar a razão pela qual escolhemos fazer cinema. É desta razão que devemos estar
cientes e nos auto-referir a cada produção, para que, nas mais complicadas, não percamos de
vista nosso objetivo principal e nem a qualidade de nosso trabalho. Quando essa razão é
esquecida, corre-se o sério risco de ter a qualidade do trabalho igualmente esquecida na primeira
frustração profissional.
E outras palavras, o bom andamento de um filme depende menos do preparo técnico de
sua equipe do que da boa vontade de todos em fazer o melhor. E é preciso dizer: o cinema
exerce sobre as pessoas um fascínio tão grande que por vezes acreditamos que se trata de um
mundo mágico. Nada mais falso, do ponto de vista de quem está do lado de trás das câmeras. E
por isso, não custa lembrar que essa boa vontade não parte de uma entidade abstrata e
indiscernível que paira no ar, parte da responsabilidade individual de cada um. Isso fará do
coletivo uma boa equipe.
A Divisão da Equipe
Uma produção cinematográfica, como já mencionamos, é necessariamente coletiva, e,
portanto, as tarefas devem estar muito claras e os objetivos muito bem definidos. Mas que tarefas
são estas? Existem, claro, inúmeras funções no cinema, cada uma delas responsável por uma
determinada faixa de atuação, uma necessidade frente a um contexto específico – o filme – e
que variam em certa medida de acordo com o caráter da produção. Entretanto, há certas
funções que são básicas, e que sem a qual não se faz cinema, pois são de necessidade
primordial. São elas:
Direção
Produção
Fotografia
Arte
Som
Montagem e Finalização 2
Com exceção do montador que, dependendo da produção, pode trabalhar sozinho,
todas as demais funções pressupõe equipes, cujo número de integrantes também é variável de
acordo com a necessidade e/ou disponibilidade da produção. Mas, em linhas gerais, uma equipe
funciona com uma média de 3 integrantes, sendo um diretor e dois assistentes. Designamos o
diretor de um filme por esta função – Diretor – e os demais, por Diretores Técnicos.
Funções das Equipes de Cinema
1.DIREÇÃO
O diretor de um filme é responsável pelo resultado final de um conjunto chamado cinema.
O papel de diretor começou com o próprio realizador. No início do cinema, ainda por volta dos
primeiros anos do séc.XX, não havia nenhum contingente técnico disponível, e quem tivesse
vontade de filmar, deveria tomar todas as iniciativas para tal. Os diretores então escreviam suas
próprias histórias, produziam, filmavam, às vezes atuavam e também montavam o filme. Algum
tempo depois, quando Hollywood entrou em cena como pólo de produção de cinema, os filmes
ganharam outra função, que acabou por se tornar uma espécie de monarquia do cinema: o
produtor.
O produtor, por ser quem financiava os filmes, escolhia os roteiros, os artistas, e até o
diretor, que se tornava mero técnico, tanto quanto os demais. Mas na Europa foi um pouco
diferente. Como não existia uma produção industrializada, o diretor continuou sendo o grande
realizador, o artista que usava o cinema como meio de expressão. Os primeiros grandes diretores,
com exceção de D.W.Griffith e Edwin Porter, foram europeus.
O Diretor tem, portanto, seguindo o raciocínio europeu, a responsabilidade do projeto. Ele
deve conhecer perfeitamente todos os detalhes do roteiro, estudá-lo num storyboard, e ter
previamente uma imagem feita de cada plano, que no conjunto dará significado à sua obra.
Além do mais, deve conhecer detalhadamente cada função técnica do cinema, e saber
o que pode extrair de cada uma com o orçamento que tem. Deve ter uma cultura literária,
musical e dramática elevada, ou pelo menos condizente com o resultado que quer obter do
cinema, pois tudo servirá como referência em sua criação, mas também para poder escolher a
melhor trilha sonora e a melhor forma de extrair a dramaticidade desejada de seus atores.
Conhecimento de técnicas de fotografia serão muito úteis na agilidade do processo, pois saberá
com mais precisão o que quer do fotógrafo. A  noção geral da narrativa dará a ele segurança
para supervisionar a montagem, e encaixar depois todos os elementos de pós-produção, como
efeitos, fusões, ruídos e música.
O trabalho do diretor é árduo, pois dele todos da equipe esperam segurança, tanto na
escolha dos planos como na condução da filmagem tecnicamente falando. Ele deve saber até
onde vão suas limitações técnicas frente à verba e/ou possibilidades com o equipamento
disponível, para que não peça coisas impossíveis e crie um pesado ambiente de discórdia no set
(quando todos procuram culpados, o caos está instalado). Da mesma maneira, deve avaliar até
onde seu pedido está sendo atendido pela equipe de diretores, fotografia, arte e produção, para
deixá-los à vontade com a margem de criação pessoal de cada técnico, sem que, também, seu
trabalho seja autoritário e extravagante. É necessário senso de medida apurado, que só se obtém
quando se está totalmente imerso num projeto.
O diretor é um criador que está lidando com um conjunto de artes que confluem para
uma resultante de imagens, e por isso deve atentar para itens relacionados à filosofia da arte e
teorias da estética. Deve escrever sempre que possível, para treinar a coerência narrativa, e
exercitá-la no cinema, fazendo experiências de propósito bem definido. Deve aprender a refinar o
olhar poético que tem do mundo, como forma de aprimorar sempre sua linguagem, para que
possa contribuir com informações diretas e metafóricas, efetivando assim a criação artística.
O diretor costuma ter 2 assistentes: o primeiro assistente o segundo, este por vezes também
conhecido como continuista. O primeiro assistente é seu braço direito, que conhece o roteiro tão
bem (ou até melhor) que é capaz de dizer sem pestanejar qual plano será rodado em seguida,
bem como quais são os atores, e qual a intenção dramática daquele plano. Isso é apenas uma 3
forma de lembrar o diretor para que ele não se esqueça da linha narrativa do filme, e não se
perca com detalhes que poderão mostrar-se incoerentes. O primeiro assistente ainda confere o
tempo de cada plano através de um cronômetro e preenche um boletim de controle. O segundo
assistente por vezes é quem preenche este boletim, mas sua principal atividade é o cuidado com
a continuidade. Isso significa que ele deve estar atento a cada plano para que o plano seguinte
a este no filme, por mais que seja filmado outro dia, tenha as mesmas características de cenário,
figurino, objetos de cena, maquiagem e iluminação. Quando a produção é muito grande, podese ter até 3 assistentes de direção, o terceiro sendo exclusivamente continuista.
Outra função da equipe de direção é o casting, ou escolha do elenco. Essa modalidade
no Brasil é pouco explorada, e em geral é resolvida pela produção e direção, mas há uma função
específica para isso, mais comum no cinema americano, e que se preocupa exclusivamente com
a escolha e o contato com o elenco. Em cinema publicitário seu uso é constante.
No cinema em que o diretor é o autor, ele é o responsável pelo filme e pelo resultado, e
deve zelar para que ambos confluam harmonicamente, segundo sua estética.
2.PRODUÇÃO
Como Produtor em cinema, pode-se entender de três maneiras principais: O Produtor,
propriamente, o Produtor Executivo, e o Diretor de Produção. O primeiro é o dono do estúdio, no
caso do cinema comercial, ou quem banca financeiramente um filme, no caso do cinema
artístico.
O Produtor executivo é o administrador da verba, do dinheiro disponível, e que sabe
exatamente todos os custos do filme para direcionar melhor a produção durante as filmagens. O
Diretor de Produção é o que gerencia as necessidades práticas de um filme. É ele quem entra em
contato com as locadoras de equipamentos, os laboratórios, as locações, os atores e a equipe
técnica, procurando sempre a melhor opção para o resultado que o diretor espera. O diretor do
filme deve ter estreitas relações com o diretor de produção para poder saber o que é viável a
partir do orçamento, pois quem pedirá mais dinheiro ao produtor executivo, é o diretor de
produção. Ele organiza, junto com sua equipe, o set de filmagem, providencia alimentação,
cadeiras e conforto para a equipe e atores.
O diretor de produção recolhe de cada diretor (fotografia, arte e o do filme), uma lista
com todo o material necessário para cada função preencher as suas necessidades, construir um
orçamento e, a partir da aprovação pelo executivo, mobiliza sua equipe para conseguir tudo o
que for necessário. É tarefa dele também sentar com o diretor para organizar o cronograma de
filmagem e zelar para que ele seja cumprido. O diretor de produção deve conhecer o roteiro
sistematicamente, para poder avaliar as condições de ordem de filmagem, e poder substituí-las
caso algum inconveniente atrase determinada cena.
Em suma, o produtor é o responsável pela andamento prático do filme. Mais do que o
próprio diretor, o diretor de produção é quem sabe mais o que está acontecendo ao redor do
filme.
Existe ainda uma subdivisão na direção de produção, que é o produtor de set,
encarregado de tudo o que compõe o set de filmagem, enquanto o diretor de produção está
atrás de uma nova locação, por exemplo. Produzir é uma tarefa muito desgastante e que requer
muita organização, pois são muitos fatores de preocupação para garantir a realização do filme.
A equipe de produção em geral tem muitos assistentes. Mas os chamados Assistentes de
produção são, de maneira genérica, assistentes de qualquer coisa no filme. Isso porque numa
produção cinematográfica muita coisa acontece ao mesmo tempo, coisas para ser resolvidas
paralelamente a outras cuja importância não se pode hierarquizar; por isso, é muito frequente o
deslocamento de membros da equipe de produção para outras equipes, com esse intuito. O mais
comum é na equipe de arte, em que um assistente de produção poderá ir buscar ou procurar
objetos de cena específicos, comprar a tinta que acabou num momento crucial, etc. Mas o
assistente de produção poderá ir comprar uma lâmpada que queimou (para a equipe de foto)
ou trazer e levar o ator convidado (para a equipe de direção).  4
3.FOTOGRAFIA
O Diretor de Fotografia, DF ou simplesmente fotógrafo, é o responsável pela imagem de
um filme. Em inglês, apesar de existir o termo ‘Director of Photography’, há uma tendência
moderna em chamá-lo ‘Cinematographer’, pois a imagem captada por ele é a própria imagem
do cinema, e aqui também por vezes é usada essa expressão, ‘cinematografia’ (a fotografia de
cinema) e ‘cinematografista’ (o fotógrafo). Como todo o filme é uma projeção de imagens
fotográficas, sua participação confunde-se com o próprio ato de fazer cinema, e daí o uso dessas
expressões.
O resultado estético do filme no que diz respeito à imagem captada e projetada é de
concepção, criação e realização dele junto com sua equipe de trabalho. Ele deve participar das
reuniões de pré-produção com o diretor, produtor e diretor de arte, afim de que as diretrizes
estéticas sejam estabelecidas e ele então possa designar os melhores técnicos, equipamentos e
materiais sensíveis (filmes) para que o resultado seja condizente com a proposta do filme.
O diretor de fotografia trabalha sempre com uma equipe personalizada, pois a harmonia
entre seus membros é fundamental para que a filmagem seja rápida e eficiente. Estes membros
incluem, normalmente em longa-metragem e filmes publicitários, dois assistentes de câmera, um
assistente de iluminação, eletricista e maquinista. Este número pode variar de acordo com o
tamanho e a verba da produção, sendo que em curta-metragens em geral só há necessidade de
um assistente de câmera.
O fotógrafo é o responsável por todo o design da luz do filme, ou seja, ele concebe as
características estéticas dos tipos de iluminação para cada plano, bem como eventuais efeitos
de fitragem na luz (gelatinas nos refletores ou filtros na câmera), para obter colorações específicas
na luz ou mesmo balanceá-las; considera as relações de contraste da luz e do filme e escolhe
qual a exposição correta para cada plano filmado. Participa também ativamente da pósprodução do filme, fazendo o que se chama marcação de luz, ou seja, quando o filme está
pronto e será feita a primeira cópia completa, ele vai ao laboratório e marca todos os planos com
determinada filtragem, a fim de balancear todas as luzes e cores para que a cópia não saia
desigual (isso acontece porque os planos são filmados com situações adversas e diferentes de luz
e/ou filmes, e as cópias de cada rolo apresentam diferenças marcantes na luz e na cor). Depois a
cópia é projetada, e só é liberada para exibição pública com a aprovação dele.
Nos EUA, ainda existe uma outra função, a do operador de câmera. Neste caso, o
fotógrafo faz apenas o design do luz, escolha dos equipamentos, filmes, indica a exposição e
eventuais filtragens, mas não opera a câmera. No Brasil isso é pouco freqüente, sendo que na
grande maioria dos casos o fotógrafo também opera a câmera. Se for este o caso, o primeiro
assistente é responsável pela limpeza e manutenção do equipamento (como objetivas, chassi e
da própria câmera), checagem completa da câmera (baterias, limpeza dos filtros), e dos
atributos dela para cada plano (velocidade de exposição, abertura do obturador e diafragma,
filtros, bem como correção de foco, correção de zoom e verificação da profundidade de
campo). Em suma, o primeiro assistente é o braço direito do fotógrafo, está sempre com ele e
conhece profundamente o equipamento que utiliza, assim como o roteiro, auxiliando o fotógrafo
prática e esteticamente. O segundo assistente é o responsável pelo transporte e guarda dos
equipamentos e filmes, montagem dos tripés e praticáveis, bem como a troca do filme no chassi e
a anotação das informações no boletim de câmera.
A equipe de iluminação (ou o assistente) e maquinaria (maquinistas, responsáveis pela
preparação e operação de gruas, travellings, etc., e eletricistas), são requisitados apenas durante
o andamento das filmagens, para efetivamente montar e ligar as luzes e os acessórios de câmera,
gruas, travellings, dollys, etc...), conforme indicação do DF ou seus assistentes.
A equipe de fotografia, por seu papel de máxima importância, deve estar sempre atenta e
interessada, ter afinidades entre si e com os demais membros da equipe de filmagem, pois todos
os problemas da produção passam, em maior ou menos grau, para a tela se não forem bem
administrados. 5
4.ARTE
A equipe de Arte costuma ser maior que as demais. Isso porque existem muitas funções
adjuntas, que trabalham paralelas e que se denominam genericamente a Arte de um filme. Mas,
em linhas gerais, elas são constituídas principalmente pela cenografia (cenários em estúdio ou
preparação de locações), adereços (objetos de cena), pelo figurino (roupas e acessórios que os
atores vão utilizar) e pela maquiagem. Existem técnicos especializados em cada uma destas
funções, e que numa produção, estão subordinados a uma concepção estética geral que é
administrada pelo Diretor de Arte. Ele, a partir das idéias do diretor, irá desenvolver uma estética,
uma linha estilística que guiará o filme dará as diretrizes para cada uma das instâncias
supracitadas.
Cada uma destas partes é por vezes tratada em separado, porque nem todas são
absolutamente obrigatórias em todas as produções, apesar de serem bastante freqüentes.
A cenografia passa por ser a mais utilizada das funções da Arte, e é constituída por tudo
aquilo que compõe um ambiente onde se passará a ação do filme. Existem dois tipos básicos de
ambientes,  do  ponto  de  vista  cenográfico:  Estúdio  e  Locação.  O  primeiro  é  aquele  em  que  se
constrói um cenário ou um ambiente, um grande local fechado, em geral um galpão ou estúdio
de grandes proporções. O segundo são localidades pré-existentes, casas, apartamentos, ruas,
estradas, praia, etc..., ambientes naturais que a cenografia tem apenas que decorar. A vantagem
do primeiro é o controle total sobre a luz e a disponibilidade de passar muito tempo seguido com
o cenário à disposição, e a vantagem do segundo é simplesmente não precisar construir cenários.
Se este ambiente for natural, como praia, campos, ruas, locações em geral, o cenógrafo e o
diretor de Arte apenas trabalharão no sentido de escolher uma paisagem que melhor
corresponda às necessidades estéticas do filme. Agora, se estiverem trabalhando em estúdio, em
que é preciso montar uma cenografia, criar um ambiente, aí então temos o papel do cenógrafo
em pleno desenvolvimento de suas faculdades criativas. O cenógrafo desenhará uma planta dos
ambientes a serem construídos, fará uma lista do material necessário para construção e
acabamento e, com a ajuda de cenotécnicos (cujo número varia com a complexidade do
cenário), constrói o ambiente cenográfico, desde as paredes, portas, janelas, até a mobília,
eletrodomésticos, quadros, enfeites e decoração em geral. Obviamente, se o cenógrafo não for o
diretor de arte, ambos devem estar em acordo.
O aderecista, responsável pelos objetos de cena, é uma função que se encaixa mais no
quesito produção do que direção de arte propriamente, pois a ele é incumbido o trabalho de
achar e cuidar do objetos usados nas filmagens, mas cuja decisão de qual objeto é mais
apropriado recai sobre o Diretor de Arte e o próprio Diretor do filme. O figurino é uma outra
instância bastante específica, e uma das funções mais importantes da direção de arte. O figurino
de um personagem é um índice que resume com propriedade o caráter, o estilo, o histórico de
vida, bem como o hábito e os costumes deste personagem. Assim, é de suma importância que o
figurino seja bem orientado; através dele é possível suprimir muita informação que tomaria tempo
narrativo na tela, e que o espectador tem acesso apenas pela modo de vestir da personagem.
Quando se trata de filmes de curta-metragem, em geral as roupas são emprestadas de brechós,
lojas ou até particulares, mas em produções de longa-metragem e publicidade (em alguns
casos), em geral há uma equipe de costureiras, camareiras e guarda-roupas, responsáveis pela
manutenção e conservação de todo o figurino. É mais comum encontrar estas funções em filmes
de época, que requerem cuidados especiais no tratamento do figurino.
A maquiagem é uma instância também importante e que se apresenta em vários níveis de
complexidade. Em geral qualquer produção precisa de pelo menos alguém incumbido de passar
uma base no rosto dos atores, pois o suor causado pelo calor dos refletores por vezes gera um
brilho excessivo. Alguns diretores de arte consideram este brilho natural e deixam-no aparecer. De
qualquer forma, há filmes em que isso é o mínimo, outros em que há necessidade de um trabalho
mais aprimorado, como filmes que se passam em festas, alguns lugares específicos (circo, teatro,
etc.), e temos, logo depois destes em escala de complexidade, os filmes de época, que são bons
exemplos do uso pleno de todos os recursos de maquiagem. Em geral é preciso recriar estados de
doença ou bem-estar, visível no rosto dos atores, além de intenso trabalho de cabelereiro,
trabalhando em conjunto com o figurino. 6
Por último, a maquiagem criativa, possível e mais comum nos filmes de ação,
principalmente nos gêneros de terror e ficção científica. Nestes, não apenas há necessidade de
maquiagem com sangue, membros decepados, miolos estourando, mas também máscaras, luvas
e acessórios que por vezes confundem-se com o figurino, obrigando o trabalho conjunto de todos
os setores da direção de arte.
A direção de arte numa grande produção, por ter um número elevado de sub-diretores,
técnicos e estagiários, é a que tem maior dificuldade de se manter unida e coesa. Muitas vezes,
numa produção mais barata, os próprios técnicos envolvidos – e até mesmo a direção – precisam
fazer as vezes da produção e ir atrás dos materiais necessários para viabilizar o filme. Levando-se
em conta a máxima importância de cada uma destas funções supracitadas, é fundamental que
esta grande equipe seja harmônica e cada um de seus membros tenha como único objetivo servir
ao filme da melhor maneira possível.
5.SOM
Uma vez que não se faz mais filmes mudos desde 19271
, o técnico de som em algum
momento com certeza entrará na produção. O que pode ocorrer é ele não estar presente
durante as filmagens, pois há duas maneiras de colocar som no filme: A primeira é o som direto,
captado com um gravador profissional de fita ’ chamado Nagra, um DAT (Digital Audio Tape)
ou ainda som digital gravado em cartões de memória, no exato momento da filmagem. Todos os
sons (ruído, música, diálogos) serão captados e estarão em sincronismo perfeito com a imagem
(na parte técnica há mais detalhes sobre isso).
 a Segunda é o som feito depois da filmagem, na pós-produção, e que é reproduzido num
estúdio de som, através da dublagem dos atores e dos ruídos de ambiente recriados. Algo como
sonoplastia das antigas novelas de rádio. Há uma comédia italiana, “Ladrões de Sabonete”, de
Maurizio Nichetti, que mostra bem como são reproduzidos estes sons.
Normalmente, o som direto é preferido, por não precisar recorrer ao ator 2 vezes (uma
para filmar e outra para dublar), e também por agilizar o processo de finalização do filme. Mesmo
assim, há situações em que é necessário dublar, ou quando a locação não permite o som direto
(barulho excessivo), ou ainda quando o filme é de baixo orçamento e a câmera utilizada não
possui motor de quartzo (que mantém a velocidade constante e permite o sincronismo com o
Nagra ou DAT), e ainda faz barulho. Aí é necessário fazer dublagem.
De qualquer maneira, o som no produto final, no filme terminado, é uma das últimas
etapas a ser finalizada. Inclui a produção e/ou gravação de trilha sonora, inclusão de ruídos
específicos, mixagem e transcrição (ver técnica). Neste caso, por vezes há ainda um outro
técnico encarregado apenas desta etapa.
Considerando uma produção com som direto, normalmente a equipe de som é a mais
sintética, necessitando de apenas duas pessoas: o técnico e o microfonista. O primeiro é o que
seria equivalente ao ‘Diretor de Som’, que escolhe os melhores tipos de microfones para cada
situação, a melhor maneira de gravar, sabe que ambientes precisam de tratamento acústico,
ouve reverberações incômodas e procura saná-las, conhece os melhores equipamentos e sabe
designar qual é o mais apropriado para cada produção.
O segundo é o seu assistente, e que normalmente tem a função de segurar uma comprida
vara chamada ‘boom’, em que se coloca um microfone na ponta para acompanhar os atores
em seus movimentos. É preciso tomar cuidado para não deixar o boom entrar em quadro, ou seja,
aparecer na tela.
O som, embora fundamental em qualquer produção, aqui no Brasil é tratado com certo
desdém, muito pela verba do filme ser excessivamente utilizada na qualidade da imagem,
esquecendo o produtor o mais das vezes que o som de um filme também é caro e não menos
importante. Em geral, no fim de uma produção, ao mesmo tempo em que o som será finalizado e
terá sua qualidade final decidida, a verba do filme também está no fim (quando não, acabada),
e as produções costumavam não dar o devido tratamento, com cuidado e esmero ao som (a
culpa costumava cair, para o leigo, no técnico de som, mas que fique claro, era antes um
                                             
1
o termo filme mudo não é o mais correto, pois todos os filmes tinham som, apenas denomina-se filme sonoro
para os que tem uma banda de som já gravada – e sincronizada – na película7
problema administrativo que técnico). Atualmente, os produtores têm administrado melhor a
verba e o som dos filmes nacionais tem se mostrado de excelente qualidade.
6.MONTAGEM E FINALIZAÇÃO
Entende-se por montagem ou edição a ordenação dos planos filmados de tal maneira
que formem um contínuo de ações que geram sentido de acordo com o roteiro. É como se um
escritor pensasse previamente em todas as palavras que fosse escrever, e só depois de selecioná-
las é que as colocaria em ordem para fazer sentido. É uma comparação exagerada, pois um
escritor lida com milhares de palavras, e os cineastas lidam com algumas dúzias (ou centenas, no
caso de um longa) de planos, um número muito menor de elementos. Mas a importância da
montagem fica bastante clara através deste exemplo, pois o filme não está pronto sem este
arremate importantíssimo, a ordenação dos elementos selecionados.
Neste quesito, seu trabalho não é apenas colocar em ordem, mas também imprimir ritmo e
harmonia nos cortes de cada plano, de tal maneira que as mudanças de um plano para outro
fiquem tão naturais que passem despercebidas.
Há pouco tempo atrás diferenciava-se montador de editor pelo primeiro ser aquele que
exercia esta função no cinema, e o segundo no vídeo. Atualmente não há mais essa distinção e
ambos podem ser chamados pelos dois termos, mesmo porque, cada vez mais, se edita cinema
em suporte eletrônico. O montador pode trabalhar sozinho ou com um assistente, se for um filme
longo ou com muitos cortes.
Toda a técnica da montagem, que pressupõe a impressão de um ritmo de ações, tem suas
bases na cinematografia de D.W. Griffith e sua montagem paralela (quando se percebeu que era
possível brincar com o tempo da ação dos personagens) e em Sergei Eisenstein, mestre russo que
nos deixou dois importantes livros sobre o assunto, A Forma do Filme e O Sentido do Filme.
Já a finalização, a última etapa da produção de um filme, só está sendo considerada
como etapa realmente relevante nas produções mais recentes de 5 anos atrás em diante, em
que as possibilidades de ajustes e modificações na imagem final ficaram muito mais simples (mas
não baratas) em função dos processos híbridos de intermediação digital.
A quantidade desses processos, bem como sua qualidade e suas possibilidades, variam
bastante de acordo com a tecnologia (e principalmente segundo o orçamento), mas é preciso
reconhecer já que a preparação para as filmagens, principalmente no que diz respeito à equipe
de fotografia, deve atualmente levar em conta a maneira como o filme será finalizado. Ou seja,
antes, a fotografia cuidava de toda essa parte. Hoje, ela divide a tarefa com um profissional que
supervisiona a finalização, e que portanto pensará quais processos são mais adequados para
alcançar a textura e o look da imagem final do filme. E o fotógrafo deve pensar no seu trabalho
também em função disso.
Para maiores informações a respeito destes processos, consulte em cinema/técnica e
linguagem um texto específico sobre processos de finalização.